sexta-feira, maio 26, 2006

Por entre o breu

Acho mais fácil falar sobre a tristeza.
A tristeza angustia, incomoda, sufoca, silencia. Do silêncio brota a necessidade extenuante de compreender as causas, e da ânsia surge a transformação da agonia em palavras. E estas vão saindo, facilmente. Talvez até na proporção direta do penar.
Na tristeza é mais fácil dar significado ao incompreensível; uma tentativa de estabelecer regras e leis a um sistema caótico por definição.
A tristeza possibilita pensar nela e em tudo o mais. Talvez seja a tristeza a arte do refletir, por excelência.
E é só no breu do desalento que se ilumina o meu pensar sobre coisas diminutas; é neste breu que enxergo nitidamente o que, antes, à luz inebriante, refletia intensamente, ofuscando-me.
Na tristeza, o sentir ganha concretude e insiste em transmutar-se em palavra: não cabe mais num único lugar e tem por plano descerrar-se ao mundo.
É na tristeza que me torno tagarela. Não tenho mais só a mim, mas também à conversa.
Enche de coisas o que é vazio.
A alegria, seu oposto, é uma danada de uma completa! A alegria é o espaço onde as palavras se fazem desnecessárias.

1 Comments:

Blogger Júlia said...

ai q lindo... e p mim agora as palavras tornam-se desnecessarias. luv ya!

3/6/06 2:28 PM  

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