quinta-feira, abril 27, 2006

Quanta emoção!

Na Mecânica Quântica (já como o próprio nome diz), usamos a palavra quantum para dar significado, por exemplo, ao comportamento da luz, aos seus fenômenos.
Fala-se muito em quantum de energia e coisas do tipo, como maneira de dar sentido ao se considerar como divididas quantidades elementares que, tradicionalmente, são tidas como contínuas. Assim, uma quantização seria a ação de fragmentar algo contínuo em partes discretas.
É claro que o conceito não é assim tão óbvio, mas também nem é meu objetivo aqui explicitar mais e melhor o quantum da Física. Quero é ficar-me presa mais no sentido desta palavra e no sentido que ela adquire, então, para nós, físicos e, em especial, para mim em outras instâncias.

Quantum, plural quanta, é palavra latina que designa, em linhas gerais, quantidade; porção de qualquer coisa, determinada, indefinida ou estimada.
Mas então não nos quantizamos a todo dia e a cada pouco? Não são nossos próprios sentimentos quantizados?!
Não há (pelo menos para mim nunca houve) momentos de explosões de alegria intensa, acompanhados de mais alegria ainda e somados a tantas outras; assim também como nunca me ocorreu isso com a tristeza.
Seja a alegria ou a tristeza, sua manifestação se dá por certos instantes seguidos de outros em que não se sabe o que será detectado, instantes de incerteza em que só se poderá afirmar algo ao fim do experimento.
São pacotes de emoção cujas determinações são pontuais; e, por isso mesmo, são de detecção precisa e exata.
Por serem, então, quanta de emoção, alegria e tristeza são eventos que ocorrem dentro de um determinado instante no referencial espaço-tempo; são pólos de uma mesma entidade e são reconhecidos e considerados por suas diferenças: para saber qual é qual, é necessária a experiência anterior do outro, na mesma escala.

Assim, meus caros Vinícius e Tom, para mim, dizer que “tristeza não tem fim, felicidade sim”, embora soe lindo na música bonita, me venda a impressão da idéia do seu sofrer, do seu penar e me faça ter pena de mim mesma e de vocês por tanta dor, parece-me não deixar de violar as leis da Quântica...

terça-feira, abril 25, 2006

...mesmo sabendo que o sono não passa!

Luto bravamente contra o sono.
Na verdade nem é só isso: luto para não pensar no sono.

Mesmo que ele esteja em mim, forte, intenso, literalmente a me derrubar, é em cada instante que dele me lembro que se dá seu retorno, mais forte e intenso ainda, capaz mesmo de causar dor física.

Faço outra atividade, dispenso-me momentaneamente com outras pendengas... Ele volta!; tão logo paro de fazer aquilo outro!
É quase como se ele sentisse um fio de despeito por ser substituído, um pequeno ataque de ciúme até, e vem de novo!, mais forte ainda, mais absorvedor de minha integridade. Reivindica seu lugar sem perguntar qual a minha opinião nisso tudo. Instala-se e quase que o vejo de pernas pro ar, encostado no sofá da minha mente, ocupando um lugar que imagina ser só dele e que, muito provavelmente não existe senão no meu pensar.
O tempo dilata. Cada segundo se estende rumo ao infinito de mãos dadas com minha tormenta, minha angústia.

Penso em outras coisas, olho ao redor; ele, incomodando um pouco menos, ainda lá. Contraditoriamente a si mesmo e a seus próprios comportamentos, gosta agora de ser esquecido. Prefere por vezes isso à permissão de desfrutar-me a noite com ele; longa; em que seja permitido aproveitar tanto que, ao fim, cansados um do outro, fiquemos os dois em paz.
É esperto. Sabe que, mesmo assim, voltarei eu a precisar dele, dentro em breve.
Fará questão de, novamente, me atormentar, machucar.
E eu me pergunto: por que não vem e fica, saciando-me e sendo saciado aos poucos, todos os dias? Por que é que aparece de vez em quando e some depois, deixando-me inquieta, brava, cansada?

Juro que não entendo. Por que se mostra se não há a pretensão de deixar-me a tê-lo?...

quinta-feira, abril 20, 2006

"When I cannot sing my heart, I can only speak my mind, Julia"

Sei bem que por muitas vezes extrapolo e vivo a reclamar aqui!
Fazer o quê?
Sou, por definição, azeda e reclamona!
Sou o avesso da Poliana! E não!: meus óculos não vêem o mundo cor-de-rosa!

Então, muita da tristeza que faço parecer existir em minhas palavras, não deve ser entendida como uma tristeza profunda, porque eu acabo, por muitas vezes, pintando as coisas com uma tonalidade muito mais intensa do que, talvez, devessem e merecessem ser pintadas.

Por definição também, sou melancólica! E agora, ando eu querendo provar do sabor oposto, querendo que alguém aí (de nome Júlia, minha querida prima-irmã-afilhada), alegra-se! De verdade!
Problema é que (usando a mesma idéia da saudade), alegrar-se é um verbo que não respeita o modo imperativo... Infelizmente!

Não adianta eu berrar para ela escutar de lá: “Fica feliz, moça!”...

A minha alternativa, minha fofa, é pedir que você se lembre da gente aqui: da vô e do vô, da sua vó, teus pais, meus pais, tuas primas, minhas primas, nossos primos, meus sobrinhos... Porque sei muito bem que cada um de nós, consegue se alegrar (e amenizar a falta que você nos faz!) quando lembra do seu jeitinho todo meigo e fofo, da sua risada, dos seus beijos, de você!, e, principalmente, quando a gente se lembra que setembro já está mais perto e que o aeroporto vai ser pequeno para tanta saudade a ser esquecida, tanto carinho a ser trocado, tanta conversa a ser conversada...

terça-feira, abril 18, 2006

Quatro dimensões

Para não-sei-o-quê da escola, João precisava de alguma foto antiga de sua mãe.
Ficamos, então, outro dia, ele e eu a olhar fotos de quando éramos (minhas irmãs e eu, já que ele ainda é!) crianças.
Experiência das mais interessantes. Mostrar a ele rostos conhecidos em caras de crianças! Imagino que, para ele, foi como um quebra-cabeça temporal.

Vimos fotos de brincadeiras na água, aniversário de um ano da mãe dele com um bolo maravilhoso de chocolate; nós três, ainda menininhas, vestidas para dançar quadrilha; eu, de Emília; Ia, de coelhinho da Páscoa; Palala na praia; jabuticabas!. Fotos de todos os tipos, todas as datas.
Sei lá! Fico rico quem um dia conseguir uma técnica que nos permita o contato com a fotografia pelos outros sentidos que não só a visão (desconsidero já aqui a experiência possível atualmente pelo tato porque quero, nessa minha imaginação, acreditar que este contato físico possa mais que só dar impressões quanto à textura do papel fotográfico).

Imagine-se sentindo o cheiro de xampu de neném vindo de seus próprios cabelos, você ainda com poucos meses de vida! Pense só no gosto do bolo do casamento da sua irmã que você nem chegou a provar dados o nervosismo e a ansiedade que sentiu naquele dia. Imagine poder ouvir a voz de quem você nem se lembrava mais, mas se recorda das palavras doces e oportunas que vez ou outra lhe dirigiu... Imagine sentir-se aninhado no colo da mãe, seguro, aquecido, onde tudo o que não há é medo...

Seriam como pequenas viagens ao passado sempre que assim se desejasse. Abrir-se-ia a possibilidade de relembrar com todas as nuances um momento feliz...
É claro que namorados ciumentos queimariam fotos de suas atuais ao beijo com o ex!, mas aí já é outra história...

Seria, de fato, uma revolução! Reviver! No sentido mais literal possível!
Mesmo assim, nada se alteraria na foto e elas continuariam a ter seu ar melancólico: não se encheria a barriga com a polenta da vó, embora o gosto, o cheiro e o burburinho em torno da mesa fossem novamente vividos.
E o toque suave do ex-namorado em seu ombro, mesmo que acompanhado de seu calor, de seu perfume, nunca te permitiria debruçar-se ao seu ouvido para dizer tudo aquilo que, um dia, deveria ter sido dito. Com todo o carinho. Este mesmo que se sente ao olhar para a foto...

terça-feira, abril 11, 2006

Tell me the truth

Ontem, antes de dormir, peguei meu caderninho de rascunhos… Sim, agora eu tenho um… Rabisco lá um incrível número de bobagens; e algumas delas, por incrível que pareça, crio coragem para colocar aqui.
Mas aí eu peguei meu caderninho. Queria escrever lá porque ando muito intrigada com a verdade. Não a verdade de alguma coisa, mas o conceito de verdade e como a gente acaba tratando-o.
Escrevi e escrevi e, quando acabei, nem me dei ao trabalho de ler porque sabia que era um texto desconexo, cheio só de pensamentos soltos. Eis que agora, coloco o fone nos ouvidos e a primeira música que ouço é “How to be dead”. Os primeiros versos:

Please don't go crazy, if I tell you the truth
No you don't know what happened
And you never will if
You don't listen to me while I talk to the wall
This blanket is freezing, it's been out in the hall
Where you've had me for hours
Till I'm sure what I want
But darling I want the same thing that I wanted before

Coincidência da interessante, me fez querer escrever sobre o que escrevi ontem…

Olhei, então, no dicionário. Há várias definições para a palavra, mas vou me deter em uma delas, a mais importante para mim, agora, “aquilo que é ou existe iniludivelmente”.
Tomo-o por correta e sossego o que me inquietava no começo do texto de ontem à noite: não há meia-verdade.
Para que esconder partes da história? Para que descrever o cenário e ocultar os movimentos? Para que omitar a verdade, dando-a incompleta?
Já ouvi justificativas mil, na maioria das vezes fazendo menção ao fato de se tentar poupar quem está envolvido com o que a verdade desvelará. E isso é que me é mais estranho!: a verdade só existe para ser relatada. Escondida, é segredo. Então, não a entendo como algo a ser desvelado, mas só como um fato a mais que precisa ser comentado.

É claro que muitas vezes ela pode ser dolorosa, mas escondê-la não significa poupar o sofrimento, significa (e isto eu falo para mim) desrespeitar a quem dela a esconde, admitindo de antemão a fragilidade e impedindo a reação.
Para ser didática: saber logo de cara que não gostam mais de você é melhor do que abrir a caixa de e-mails dia após dia à busca de uma mensagem que nunca virá...

A verdade pode desestruturar, devastar; mas pode, por ser ela mesma iniludível, a causa da reorganização daquilo que era só caos...

Só para constar: How to be dead é a primeira música do CD “Final Straw”, do Snow Patrol, uma banda inglesa muuuito da boa!

sexta-feira, abril 07, 2006

"O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum"

Vipa me manda conversa lá de Ilhéus... Tem saudades de seu marido que só viaja no feriado...
“Saudade antecipada”, pergunta minha amiga, "pode existir?" E, então, me vi pensando “diz aí o que é saudade!”

Comecei mal. Muito mal.
Saudade não se diz, saudade se sente.
Saudade não é imperativo: é indeterminação, perplexidade.
Saudade é a existência do que não mais existe, ali, pertinho, na altura de nossos dedos, mesmo que os dedos sejam os mesmos, do mesmo tamanho.

É! Acho que é isso!: Saudade, ela própria, é ela mesma: toda, só, um só paradoxo; impossível de dizer, abstrata, mas cheia de concretude no que só ela mesma causa.

Saudade dói, desconcerta, sufoca; e alegra, conserta, areja.

“Dá pra sentir saudade antecipada?”
Dá sim, saudosa amiga minha, minha amiga saudosa! Assim, como dá pra sonhar e esperar pelos seus efeitos quando ela não mais existir.

Ah! E o título, tomei emprestado de Cecília Meireles.

quinta-feira, abril 06, 2006

Sem assunto

Preciso confessar: a vida tá boa.
Os cursos do doutorado começaram e eu, que já me sentia enferrujada e burra, vi que não estou nem sou isto ou aquilo.
Sejam os fundamentos conceituais da Física Quântica ou dos processos de Leitura, acompanho o que se fale e entendo.
Continuo tentando fazer regime, tentando diminuir o chocolate. Continuo sem dinheiro, sem um mocinho bonitinho. Continuo pintando o cabelo de quando em quando, usando cartão de crédito feito doida. Ou seja, continuo na mais completa rotina.

E é por isso mesmo que escrevo agora: a falta de coisas novas, correria de fechar uma tarefa para começar outra (já atrasada...), nada de trabalho remunerado, nenhum mocinho (idéia fixa!). Escrevo porque não tenho porquê escrever... Paradoxalmente, escrevo, então, só para justificar o não-escrever...
Desculpa aí, mas é que preciso de razão! e, não falta delas, a lógica se inverte, vem primeiro a justificativa, e fico esperando que a causa não tarde muito a chegar...
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