quarta-feira, maio 31, 2006

Em busca de uma teoria

É tão mais fácil fazer conjecturas sobre as histórias dos outros!
Realizar inferências, estabelecer hipóteses, encontrar padrões de evidência, formular regras, leis e teorias para fenômenos observados fora de nosso cosmo interior. Fenômenos vislumbrados, portanto, em um referencial alheio, distante, cujas forças já nos atingem fracas a ponto de, talvez, nem causarem abalo algum.
Pode-se construir teorias infalíveis, coesas e bem estruturadas simplesmente pelo fato de desconsiderar a mobilidade das constantes iniciais, ao esquecer da dimensão opcional do cerne do quadro esquemático.

Quando se está dentro do turbilhão, contudo, os pequenos pontos não são hipóteses, evidências ou leis, são fatos, entes móveis e suscetíveis ao menor movimento, capazes de deixarem marcas no detector experimental; são variáveis, no sentido mais literal da palavra.Resta, ao coitado imerso nisso tudo, buscar senão justificativas para tais movimentos e forças, tentando encontrar as leis do que deve ser um sistema caótico por definição.

sexta-feira, maio 26, 2006

Por entre o breu

Acho mais fácil falar sobre a tristeza.
A tristeza angustia, incomoda, sufoca, silencia. Do silêncio brota a necessidade extenuante de compreender as causas, e da ânsia surge a transformação da agonia em palavras. E estas vão saindo, facilmente. Talvez até na proporção direta do penar.
Na tristeza é mais fácil dar significado ao incompreensível; uma tentativa de estabelecer regras e leis a um sistema caótico por definição.
A tristeza possibilita pensar nela e em tudo o mais. Talvez seja a tristeza a arte do refletir, por excelência.
E é só no breu do desalento que se ilumina o meu pensar sobre coisas diminutas; é neste breu que enxergo nitidamente o que, antes, à luz inebriante, refletia intensamente, ofuscando-me.
Na tristeza, o sentir ganha concretude e insiste em transmutar-se em palavra: não cabe mais num único lugar e tem por plano descerrar-se ao mundo.
É na tristeza que me torno tagarela. Não tenho mais só a mim, mas também à conversa.
Enche de coisas o que é vazio.
A alegria, seu oposto, é uma danada de uma completa! A alegria é o espaço onde as palavras se fazem desnecessárias.

quinta-feira, maio 25, 2006

De novo, nada novo!

Sei muito bem, de longa data, que sou, eu mesma, um imenso paradoxo encerrado neste corpo diminuto!
Posso estar extremamente feliz e, de repente, chorar sem motivo e até por tristeza. Estou entusiasmada e logo desanimo; não estou apaixonada e morro de amores; corto calorias de todos os lados e me acabo no chocolate; faço um comentário esperto e sagaz e continuo a ser ingênua. E o mais engraçado!: quando resolvo falar algo, não falo da boca para fora, se falei é porque transformei em códigos o que estava a me incomodar e precisava ser dito, mas aí o paradoxo vem de fora... Pedem-me para falar a verdade e eu falo, mas quando a digo, não a querem mais! Vai entender!
E não entendo...

Parece-me que não devo falar o que me pedem como verdade porque a verdade, de verdade, não é desejada, é somente dita como desejada, mentindo-se sobre ela mesma...
Ainda tento aprender, mas já tirei umas conclusões: quando me pedirem a verdade, a depender do caso, passo a solicitação por um filtro a fim de inverter a polaridade, aí sim eu falo!
Do contrário, além de sincera, me mostrarei também ingênua. Facetas muito fortes para serem deflagradas de uma só vez!

sexta-feira, maio 19, 2006

De quem não sente

Há quem diga e acredite que a paixão é o sentimento desses todos mais contraditório: é o sofrer com sorriso nos olhos, o penar que não se espera que acabe, o martírio que se deseja sem fim.

Como sou do contra , mais contraditório para mim é o descaso. Sim. Simplesmente por ser ele o sentimento de quem nada sente!

Quem dispensa descaso, dispensa-o sem se dar conta do que sente e do que quem o receberá irá sentir.
O descaso é tão vazio de qualquer coisa que, contrário a isso, anda sempre de mãos dadas com o desrespeito, a desconsideração, o desprezo, o egoísmo.
É ele tão perverso que dispensa seu reverso: é a mesma cara nas duas faces da moeda podre da dissimulação.

quarta-feira, maio 10, 2006

Desaparecimento

Gosto da sala de casa. Os CDs, DVDs, minhas canecas!
Sentar à mesa, junto à janela, ler, estudar, conversar; o barulho da Pedroso (à vezes) nem incomoda.
Gosto, sobretudo, de olhar pro horizonte. Empinhado de prédios. Os primeiros um pouco distantes. Vejo a Francisco Morato, o prédio do Unibanco, o SESC. Mas ontem, ao fim da atrde, eram as nuvens.

Ao fundo, dando a impressão de estarem mais baixas, uma cadeia delas, maciça.
Moviam-se no sentido Jaguaré, devagar, talvez mesmo como o trânsito devesse estar a esta hora. Começa a se dispersar pouco depois do prédio da Abril.
E em cima, mais ao alto e mais próximas de mim, uns chumaços avermelhados pelo sol. Desintegrando-se como se representassem pulsos de onda.

Fiquei lá, na janela, parada. A cidade e os carros começaram a se iluminar, o avião vindo do Tomie Othake, a piscar.
Tive vontade de descer e andar um pouco; no mesmo sentido das nuvens.Caminhar, completamente sem sentido, deixando que a noite caísse de vez, escondendo às nuvens e a mim para que ninguém nos percebesse, para que a gente simplesmente desvanecesse.

sexta-feira, maio 05, 2006

Perdendo peso

Passo fome desde segunda-feira.
Tento me recuperar dos excessos cometidos da Páscoa para cá!

Logo no segundo dia já me alegrei ao perceber que era inchaço o problema maior que eu tinha, mas resolvi continuar assim mesmo a greve embora o peso fosse o meu normal.
Resolvi permanecer na dieta porque botei na cabeça que ando gordinha demais!
Não me incomodava isso até dias atrás, mas agora já está... Acho que é o inverno, ou sei lá...
Calças, blusas mais justas, casacos. Escondem-me ao mesmo tempo em que me exibem muito mais e maior! Então, todos os dias, tenho comido pouco; não tanto em quantidade, mas em número de calorias.

Admito que a maior falta tem sido a do chocolate!
Por vezes tenho vontade de me boicotar e me empanturrar, mas não faço! Penso na ressaca moral, e a angústia de ter que passar por ela freia-me o impulso.

Não desisto dele.
Está lá, por toda a casa: em cima da mesa da cozinha, na mesinha da sala, na gaveta do guarda-roupa, na bolsa, mais ainda atrás de outras roupas.
Não finjo que não o vejo, não minto para mim mesma que ele não existe. E ele me olha de soslaio, dá pinta de que é todo meu, mesmo que sua essência esteja impregnada de condições e razões para que ele não seja de ninguém nunca, talvez só no breve ato de consumi-lo e depois, rápido assim, volta a não pertencer a mais ninguém.
Sei que ele está lá, que eu o quero (talvez até mais do que nunca), mas não vou sucumbir ao meu desejo, à humilhação de vê-lo em mim com seu desprezo e sua risada de vencedor! Só me consola a idéia de que ele é que não me quer, porque quer ser o que ele é, livre!

A recompensa minha vem de mim para mim mesma, em minha contabilidade interna, ao ver que posso melhorar na adversidade; quando deixo a balança em dígitos menores e o que era meu está sei lá onde, talvez nos ares!

terça-feira, maio 02, 2006

"Quer ir para Minas, Minas não há mais"

Após um longo tempo de minha ausência, resolvi “dar as caras” nos bares de Andradas no sábado à noite.
Final de semana com feriado, imaginei eu, deve ter alguma coisa interessante a se fazer, quem encontrar, o que conversar.
De fato até que tinha tudo isso daí de cima, mas só porque saímos Helena e eu juntas e botamos o papo de primas em dia!

Sempre senti uma certa tristeza ao ir para Andradas e perceber que xingo porque não existe mais um único boteco interessante para se tomar umas e outras; bem diferente de quando eu ainda morava lá, e as baladas existiam e nos divertíamos nelas.
Não! Não é uma crise existência, nem um desabafo do tipo: "Oh! Cresci!" Longe disso! Me entristecia era o fato de eu não conseguir me animar com aquilo que era possível fazer por lá para se divertir... Sentia-me uma estrangeira na minha própria casa...

O fato é que, no sábado, ao entrar no banheiro de um dos bares que a gente foi e que a gente ia toda semana há anos, fiquei desolada, embora aliviada!
Sei lá se foram as paredes que deixaram de ser brancas para ganhar camadas de tinta amarelada, as portas que se tornaram bege-escuro ou os papéis jogados no chão, em torno da pia!, só sei que me senti como Marty McFly, ao retornar na Hill Valley de 1985, na segunda de suas aventuras, tendo estado antes 30 anos à frente. Senti como se eu não fosse mais daquele lugar e como se aquele lugar nunca tivesse estado em mim antes, embora, na memória, as coisas ainda estivessem um pouco vivas, exibindo seus contornos e até alguns gostos e cheiros.
Senti-me fora daquilo tudo ao mesmo tempo em que me sentia inseridíssima em mim mesma: não sou mais de lá, não mais pertenço àquele contexto. Tudo o que tenho são alguns poucos fragmentos de lembranças (boas e ruins, whatever!), remotas. Fatos que ficaram para trás, pessoas que deixaram de fazer sentido.
Não sou mais estrangeira. Sou turista!
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