Guardanapos e amigas
Em janeiro, três amigas que não se viam há mais de um mês sentaram-se numa mesa de bar pra várias rodadas de chopes e papos.
A conversa, que começou fria, teve muito de Sérgio, Ricardo e Pedro. Duas das amigas estavam apaixonadas e à outra restava falar de alguém das férias para não ficar sem falar nada, na condição pouco favorável de tecer comentários ácidos às duas amigas.
Num certo momento (em que nenhuma das três poderia dizer que usufruía de sã consciência), sacaram guardanapos e canetas. Escreveram umas tantas coisas que chamaram de “Metas 2004”.
É espantadoramente interessante como cada papelzinho daqueles retrata sua dona!
Hoje são meus, por usucapião, mas nenhum deles me pertence. Nem aqueles em que estão as minhas metas, não absolutamente cumpridas...
Começo por um guardanapo que, senão completo, pelo menos foi o mais cumprido.
Lá estava escrito logo abaixo de “Metas 2004”:
* Fazer pós.
* Pelo menos conhecer o homem pai dos meus filhos.
*
Não sei porquê o último item só simbolizado. Acho que ela percebeu que tinha tecido já metas grandes e melhor parar ali e ver nada realizado. Mas a dona das duas metas e um ameaço viu a primeira com chances de se tornar real menos de um mês após essa conversa. O pai dos filhos já não sei se conheceu (isso só os anos dirão ou não...), mas eu a conheço a ponto de saber que deveria mesmo não estar no estado normal, pois se assim tivesse, o grifo estaria no artigo “o”, talvez até escrito em letra maiúscula, bem mais a seu estilo. Se fosse assim, O homem para ela, parece que apareceu.
Foi uma história difícil, que ainda é (história e difícil). Sem felizes para sempre, o fim até agora é de romance: cada um em um canto, vivendo do que viveram, sem os problemas da rotina que eles (talvez) tanto queiram.
Às vezes penso que, fosse diferente, a história e seus personagens perderiam os plurais e tudo poderia virar um “cri-cri” sem fim...
Mas se comecei pelas “2 metas e um ameaço”, vou pro outro extremo, onde fica a meta extensa, rabiscada em grandes letras de palavras compridas e não cumpridas.
* Ficar noiva.
* Terminar o mestrado.
* Entrar no doutorado.
* Arrumar um emprego – não um trabalho.
* Comprar um carro novo.
* Comprar um apartamento.
O ano não acabou, mas parece que dessas metas aí só uma será definitivamente cumprida até que chegue o dia 31.
Acho que os sonhos foram muito altos para o curto tempo de um ano.
A dona “das 6” é assim: sonha alto com vontade real, mas parece às vezes se esquecer de que, embora fundamental, a vontade não pode ser a única... e, se bem que determinada, não soube determinar o que seria colocado em papel e guardado até o final do ano, no prazo das coisas se darem por fim...
Restam as minhas. E como sei o que pensava no dia em que escrevi no guardanapo, digo que usei de trapaça! Das três, duas são incentivos necessários e reforçados por estarem no papel, a outra é necessidade incentivada quando se viu figurada ali também no papel.
* Qualificar.
* Poupar grana.
* Emagrecer 5 kg.
Tinha que qualificar: era isso ou “cai fora!”, mas decidi ficar: meta atingida. Mas também precisava poupar grana e queria emagrecer.
Na verdade até cumpri as duas últimas, mas é que guardei o dinheiro por pouco tempo, até o momento em que batiam as fúrias consumistas, e aí ele se foi... Também emagreci esse ano. Devo ter emagrecido uns 7 kg, é verdade, mas, ao mesmo tempo, engordei uns 8, o que dá um saldo de 6 kg a serem perdidos em 2005.
O que acho engraçado nisso tudo é o quanto se sabe destas moças por suas metas... Sonhadora, realista, racional, trapaceira, sei lá! O fato é que colocaram desejos no guardanapo sem saber se eram metas ou objetivos...
Aí, outro dia, li no Chalmers que “para serem úteis, e não fúteis, as metas não podem ser utópicas. Devem ser tais que se possa constatar um avanço em sua realização.” Foi então que acho que vi mais claro: muitas das metas dos guardanapos não eram metas, eram mesmo objetivos. Envolvem muitos fatores e não são capazes de serem atingidos tão facilmente e somente porque a gente tem vontade de tê-los...
O que deve contar, no fim das contas, é que, sendo objetivos ou metas, tentamos fazê-los e sentimos que talvez não dessem, que necessitariam de mais tempo... Mas aí já era tarde e pra isso, também, é que sempre vão existir as amigas, os papos, chopes e guardanapos...
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