quarta-feira, dezembro 01, 2004

Na carteira

Para quem não sabe, fica aqui o registro: Andradas é a terra do vinho.
Hoje em dia acho até que o título não é mais justo, mas há tempos atrás se vivia da produção do vinho, do cultivo da uva e da degustação da bebida por aquelas bandas do sul de Minas.
Hoje, grande parte da uva vem do Sul do país e mesmo o vinho às vezes é comprado de lá. Chega em Andradas e se engarrafa o que foi feito por descendentes de alem~es e se vende o produto como algo legítimo da terra do vinho.
Porque era a terra do vinho, criaram uma tal de Festa do Vinho. Sempre em julho, ela coincidia com a época em que o produto ficava pronto depois de terem começado a fabricá-lo por volta de janeiro, época da panha da uva.
A primeira Festa do Vinho foi em 1954 e teve direito ao então governador de Minas, Sr. Juscelino Kubitschek, indo lá pra Andradas pra cortar a faixa, dançar com a rainha, beber uns copinhos de vinho e distribuir uns prêmios que uma certa comissão julgou que eram devidos. Conta a história que minha família ganhou um desses troféus. Não sei bem ao certo em qual categoria foi, mas é certo que não foi pelo próprio vinho... Parece que foi de melhor decoração da barraca (que àquela época não era chamada de stand, talvez porque as pessoas não ficassem paradas em uma só... mas isso já é especulação). Sei só que minha família lá estava presente na primeira Festa do Vinho, talvez a única verdadeira Festa do Vinho que já se teve em Andradas.
Depois o negócio cresceu e as pessoas foram indo pra lá, e construíram um tal de Pavilhão do Vinho onde eram os shows e onde se comprava uma caneca e se bebia o vinho que quisesse e agüentasse (não na mesma ordem, é claro).
Sei que me lembro da Festa quando, em criança, a gente esperava o ano todo para que, na segunda quinzena de julho, montassem lá na Vila Mosconi uma extensa e diversa feirinha, no melhor estilo camelódromo.
Nós, crianças, adorávamos a Festa do Vinho por causa das barraquinhas. A gente não tinha mesada (que em Andradas isso nem era necessário), mas minha mãe dava uns tostões pra gente e nos acabávamos lá na feirinha. Não era muita grana, então a pesquisa era absurda e a gente às vezes ia várias vezes à feira só pra pesquisar e só comprava o que queria no último dia da Festa. Eu achava uma delícia!

Lembro bem que em um ano lá quis ter uma carteira. Achei uma linda no camelódromo. Era toda vermelha, da OP, e com fecho de velcro. Fazia aquele ttttsuuu, quando a gente abria. Queira muito a carteira. Pesquisei e pesquisei, mas o preço era o mesmo em toda a feira.
O dinheiro que eu tinha recebido da minha mãe não dava pra compra-la, mas eu queria tanto, e falava tanto da carteira, que minha mãe disse que completaria.
Então eu tinha o dinheiro pra comprar o que queria. Mas qual a serventia da carteira se, depois de tê-la, o dinheiro para colocar lá dentro já tinha ido embora?
Pois é... fiquei no dilema por quase uma semana, mas decidi por comprar a carteira. Tive ela por muito tempo... às vezes meu pai me dava um dinheiro pra ir até o bar do lado de casa buscar o cigarro dele e eu colocava o dinheiro na carteira só pra poder tira-lo da carteira na frente de todo mundo, no meio do bar. Era uma delícia ver todo mundo me olhando quando a carteira cantava seu ttttsuuu!
Sei que valeu mesmo a pena gastar todo aquele dinheiro na carteira.

Hoje lembrei dela porque vi o quanto ainda sou a mesma: não que tenha faltado dinheiro pra pôr na carteira (também não tem sobrado, deixo claro...), a verdade é que desde que comprei esta carteira virtual aqui, parei de ter idéias e de viver coisas que me agucem a vontade de escrever uma boa história... Por isso a carteira tem andado meio vazia. Espero que agora elas (coisas e idéias) estejam voltando, e que sejam minhas, porque não consigo depender do que somente me emprestam pra colocar aqui.
Online