quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Eu sou o verdadeiro muro das lamentações

Escrevi isso aí no ano passado e só achei hoje.

Tem dias em que o choro vem. Não sei de onde, mas ele vem.
Este ano, passei cinco meses seguidos sem derramar uma única lágrima. Confesso que não me orgulho disso. Às vezes é bom um bom choro para lavar a alma, arejar a cabeça e tirar dos olhos tanta distorção que eles carregam e que impossibilitam que a gente veja o que realmente é.
Aí, tem dias em que o choro vem. De algum lugar qualquer, ele vem. Alguns de vocês já presenciaram meus momentos assim. Não são raros. Sinto os lábios tremendo e as lágrimas escorrerem aos borbotões. Nariz e olhos avermelham num instante.
Outro dia tive uma crise dessas. O mais engraçado é que não tenho certeza do porquê de tanta lágrima, nem se eram necessárias naquele momento. Só sei que chorei. Por minutos, horas, chorei silenciosamente, e as lágrimas eram mais rápidas do que meu raciocínio em busca de uma explicação do motivo de elas existirem.
Chorei, chorei e chorei. Garganta trancada, olhos em fogo.

O que será que me fez tão triste?
Ninguém em casa para deixá-la em desordem. Nenhum namorado com quem brigar. Nenhuma conversa torta e difícil. Nada de chateação por me ver terrivelmente e injustamente contrariada e julgada. Não senti a desgraça batendo à minha porta.
Acho que foi por isso mesmo que chorei...
O que é a vida se não há problemas mundanos com os quais nos apavoramos? O que é a vida se a gente não resvala nos trilhos? Se entra dia, sai dia, sabemos o que vai acontecer?

Tá tudo muito parado. Tá sem emoção.
Só tenho andando por ruas retas. Não escrevi uma nova linha porque deixei que as coisas seguissem seu curso, como se estivessem no piloto automático, como se tudo se resumisse em ida e volta pelo mesmo caminho, sem imprevistos.
Muitos sonham pôr a vida numa estrada certa, de casamento, de filhos. Hoje, acho que minha felicidade está no acostamento de uma pista mal sinalizada, com o mato alto a cobrir a placa que indica uma direção qualquer. Resta a mim a coragem para jogar o carro num buraco da pista estourando o pneu.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Em se tratando de jogos, nunca fui uma pessoa sortuda.
Só fui uma vez na vida a um bingo, mas essa solitária experiência já foi suficiente para me mostrar que ganhar dinheiro fácil é coisa que só acontece com os outros.
Mesmo quando participava de festas em Andradas em que se tinha quimbol (o bingo de quermesse daqui), nunca levei prenda alguma para casa.
Por outro lado, em certos assuntos, tenho uma certa sorte: Nasci em boa família que sempre me apoiou e me deu condições de ter a vida que escolhi e que foi se moldando para mim. Não parei muito para pensar nos desdobramentos do que fazia porque fui vivendo como queria.
Acontece que chegou agora.
Desiludida e triste com muitas coisas, não estou aqui pleiteando o sentimento de dó de ninguém, aliás, nem gosto que sintam isso por mim, queira só contar mais alguns momentos dos meus infinitos desabafos lamuriosos.
Estou me sentindo vazia. Oca e seca feito uma cabaça, acho que nem eco meu interior é capaz de emitir.
Tenho tão poucas razões que me convençam a sair para todo e cada dia que às vezes prefiro o vazio e a solidão de casa, acompanhada do barulho de coisas acontecendo lá fora. Não me atraem; são só indícios de que tudo vai em desprezo e desconhecimento de todos sobre mim e de mim sobre eles.
Estou tão vazia que não tenho mais vontades grandes, obsessivas e inatingíveis. Aliás, nem do que sempre tive vontade tenho mais.
Estou me conformando com o fato de que tudo ficará assim, faltando as coisas falta a mim ou eu, falta a elas.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Chuvisco ou chuvarada?

Não dou um bom beijo apaixonado há tanto tempo que nem vale a pena tentar lembrar. Não que faltem bocas e nem que eu esteja cumprindo alguma espécie de penitência, mas é que está faltando de verdade o frio na barriga e a vontade inesgotável de beijar a mesma boca.
Será que a solução não está em contentar-me com as bocas disponíveis e fazer bom uso delas? Pra mim, não. Isso não serve. É aceitar esmola e se chafurdar em falsa alegria. Por outro lado, eu estou é sonhando com o prêmio da Mega Sena sem poder contar com o dinheiro da aposta.

Tenho visto inúmeros casais aparentemente apaixonados e felizes e não os invejo. É claro que eu queria estar apaixonada e feliz, mas o ponto aqui é: será que todo casal que se apresenta junto e grudado em mesas de bares é, de fato, feliz? Lógico que deve haver os que são mesmo feliz e casal, mas acredito que a maioria deles deve ser de gente que tem paúra de ficar sozinho e acaba se submetendo ou se sujeitando a uma situação convencional e conveniente.
Ficar sozinho é difícil. Não ter pra quem ligar, não ter com quem conversar, não receber nem dar carinho são pequenos exemplos de coisas que só contribuem para entristecer qualquer um. Mas de que é que adianta ter tudo isso daí de cima se o frio na barriga não vem, se tudo é mera inércia calcada no medo de enfrentar a falta do que, mesmo não sendo sincero, se tem?
De verdade, o que me incomoda é a acomodação.
Não tenho nada, mas não estou feliz por isso. Tenho só medo de um dia ter uma migalha, uma esmola, uma emoção a conta-gotas e me contentar com o pouco pensando que “é melhor a fonte pingar do que secar”.
Quero é uma catarata de emoções, mesmo que elas venham na forma dessa angústia e desconsolo que tenho agora.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Houve mesmo o carnaval?

Entre desencontros e garganta inflamada, não via a cara do carnaval.
Aproveitei os quatro dias para me entregar ao bom “nada fazer”. Fosse eu um pouco mais dedicada aos preceitos religiosos ou à filosofia, poderiam até dizer que estive em um retiro espiritual, mas não: na verdade só comi muito e dormi o suficiente.

Quem é do tipo carnavalesco deve estar horrorizado com minha falta de atitude para com esses dias de folia, mas fico tranqüila porque carnaval nunca foi mesmo uma festa que me atraísse em demasia.
O feriado em si é ótimo: 4 dias de folga do trabalho ou dos estudos. 4 dias de ódio em que pecar é permitido e até recomendado.

Sempre me pareceu que o carnaval era, para muitos, a oportunidade de tomar um porre, beijar e abraçar quem quer que fosse sem que o pudor batesse à porta clamando por explicações. Para mim, o porre do carnaval só serve mesmo para que eu esqueça de que estou em uma festa em que os trajes são mais curtos e menos finos do que se é de esperar, os corpos são os mais suados (e, às vezes, menos cheirosos) que se vê por aí e as coreografias são as mais óbvias de se esperar.
Saí, então, de cena para evitar que minha falta de docilidade para com os excessos e costumes da festa profana azedasse a alegria de que adora o carnaval.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Entre muitos e diferentes adjetivos dos quais eu possa me valer para me definir, “frustrada” talvez seja o nome que melhor me caiba agora.
Tudo o que está ocorrendo já existia há muito ou há pouco tempo, e as preocupações não são legitimamente novas. Acontece que agora todo e qualquer motivo que me deixa angustiada e que me traz a frustração resolveram dar as caras juntos, em fase, e levaram a essa “interferência construtiva de eventos estranhos que originaram o tsunami causador da minha atual situação.
É estranho me ver assim...
Sempre tive na cabeça que poderia me tornar alguém respeitável (e talvez até invejável), mas agora me vejo adulta, independente e extremamente medíocre.
O que é que eu fiz da vida? O que é que a vida fez de mim?
Não sou uma professora exemplar, não sou uma pesquisadora com faro aguçado para novos problemas e explicações, não sou uma escritora estável, não sou a namorada de ninguém, não sou a garota para a qual todos viram os olhos quando passa... sou, sim, média e rasa em tudo o que faço.Agora, acho que a explicação está no fato de eu não me encontrar em lugar nenhum, não me ver em um futuro próximo, como o fim deste ano, trabalhando em algum lugar que me dê a mínima segurança para eu desenvolver qualquer aptidão que eu tenha ou não, para que eu tenha condições de pensar em coisas que realmente importam. Parece que faltam, a mim, objetivos. Falta eu decidir o que eu quero de fato e me obrigar a fazer isso. Com muita certeza e muito medo. E a coragem exata para enfrentá-los.
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