quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Uma década

Dez anos depois e continuo em São Paulo.

Quando vim pra cá, na ingenuidade peculiar a quem vê o futuro de si e dos outros com seus próprios olhos e como imagens deslocadas no tempo das ações do agora, estava convicta de que a volta ocorreria em quatro anos.
Todo dia era só um a mais e toda sexta-feira era a mochila nas costas e o mesmo trajeto da semana anterior.

A casa era lá, os amigos estavam lá e eu desejava que minha vida, parcialmente vivida aqui, continuasse a fluir lá, como se aqui fosse só um estado momentâneo.

Não foi rápida, mas foi involuntária e imperceptível, a minha mudança de lar.

Primeiro, os amigos foram deixando de estar só lá e os convites (para cerveja a qualquer hora, para baladas no fim de semana, para festinhas com ou sem motivo algum) se revezavam entre cá e lá.
A isso, foi-se juntando a preguiça de fazer malas com tanta obstinação aos fins de semana.
Na verdade, as roupas começaram a estar mais aqui do que lá.
E num certo dia eu assumi que, por mais que eu desejasse voltar a viver de modo tranqüilo ao lado da família, minha vontade era estar aqui também; era ser visita onde sempre foi (e será) meu lar.

A mudança se deu em mais que no endereço. Por isso mesmo não me ajustava mais em um só lugar.
Tornei-me multifacetada, o que não implica que eu não saiba quem sou, que seja volúvel; implica tão somente em que não sou mais tão indeformável.

Se me transformo tanto, nem sempre as transformações são para o rumo que se imaginava. Mas levo sempre comigo a perseverança de não mudar tanto a ponto de não ser reconhecível naquela que há 10 anos saiu com suas malas e vontade de estar onde parecia seu lugar.
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