terça-feira, junho 21, 2005

Mas é claro que eu posso estar errada!

Tenho medo de compromissos.

Não estou dizendo que não consigo ter uma relação interpessoal, amorosa, estável (se bem que isso não deixa de ser verdade...), o que digo é que há uma grande probabilidade desta relação não durar muito tempo se ela já começar dentro dos conformes, com cara de que vai chegar a algum lugar, qualquer lugar.
De certo modo eu sempre soube disso, mas é que também me amedronta admitir que sofro de tal medo. É como admitir que você quer excluir certas possibilidades e que aceita somente aquela que não tem chance nenhuma de vingar. E isso não é verdade.

Não sei, sinceramente, se esse meu medo tem uma explicação simples, mas a única que certamente consigo vislumbrar é aquela que se remete diretamente à certeza e à previsão, como se houvesse um roteiro predestinado: a gente não sabe quando vai surgir um compromisso, mas, uma vez que ele está agendado, se torna previsível e certo.
E isso me provoca um medo irracional!

Não quero a burocracia de um encontro com um bom moço que vai me chamar para um cinema ou jantar, vai me tratar bem e burocraticamente, que, em uma cera hora (não muito cedo nem muito tarde) vai se declarar mecanicamente com uma frase qualquer aí e dizer com palavras decoradas que seria bom se a gente ficasse junto por mais tempo.

Sério! Tenho pavor disso!

Tenho medo de que a vida perca o seu caráter de improviso, sua originalidade e mesmo a falta dela, a imprevisibilidade que me faz chorar, sorrir ou ficar estagnada, deprimida.
Quero da vida o que nem penso que pode acontecer, o imprevisto, venha ele de lugar nenhum ou do óbvio que não era visto da forma como deveria.

Uma vez, há bastante tempo, eu criança conversei com minha mãe e ela me apresentou ao inevitável: não é certo que uma pessoa faça faculdade, se case, tenha filhos, seja triste ou feliz, mas é certo que, independente de tudo e de nada, uma hora ou outra ela morre.

Não foi só esta conversa com minha mãe que me fez assim (e disto estou certa!), mas o que ela me disse naquele dia e em outros só reforçaram o que eu já era e é só assim que eu sei ser: me fazendo aos poucos, sem grandes planos, sem idéias altamente estruturadas, ciente de que, para o futuro, basta-me uma única certeza. E já é muito!

terça-feira, junho 14, 2005

Mando de campo

Não é para ter fama de má nem nada disso. É anterior: sou mandona desde pequena.
Não acredito que eu seja mimada ou que pense que o mundo gira em torno do meu umbigo (se alguém aí pensa que eu faço ou sou uma dessas duas coisas, por favor, me avise!), mas é que, por muitas vezes, não controlo o tom de voz e a minha opinião soa (até para mim mesma) como uma ordem. Cresci assim. Então passei a vida toda querendo dar ordens e me infiltrando em situações que permitissem que eu tivesse esse comportamento.
Aí vem que, como boa mandona, não gosto de receber ordens.
Na minha infância, tive um vizinho que uma vez se revoltou. Disse para a turma que não mais brincava em brincadeiras em que eu estivesse porque eu ia querer mandar. Não discordo dele, mas o fato é que a rebeldia durou pouco e o golpe foi por água abaixo quando perceberam que era mesmo necessária a minha presença para botar ordem ali na pracinha e nas brincadeiras. Resultado: ganhei mais asas ainda e o poder apoderou-se de mim!
Só que agora, neste domingo que se foi, percebi que já convivo com aquele que é o meu igual.
As evidências eram claras e sei lá o porquê de minha cegueira. Foi preciso um “vai lá” alto e forte, dito em tom imperativo, para que eu me desse conta de que estava recebendo ordens desse ser e acatando-as há um bom tempo sem me queixar nem mesmo com um muxoxo.
E eu fui. Fui pra lá.
Consciente da ordem recebida, não titubeei, não questionei, só cumpri: coloquei-me entre duas vigas de concreto e defendi os chutes dados ao gol imaginário, vindos do outro extremo da garagem e disparados por meu sobrinho, João Gabriel.
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