segunda-feira, março 28, 2005

A santa

Não tenho fortes ligações com Deus, Cristo, Jeová e outros. Não sou uma pessoa espiritualizada e sou até bem resolvida quanto a isso, mas o fato é que essa Semana Santa e seus feriados me fizeram bem.
Fui pra Andradas e lá os dias foram de descanso e de muito pensar. Não sei qual o rumo da minha vida e ando somente querendo encontrar saídas ou alternativas para o momento estranho e incerto que venho encarando. De qualquer modo, o fim de semana teve também o batizado da Alice.
Não sei se foi a data, a ocasião ou todo o contexto, mas ganhei da minha mãe uma imagem de Nossa Senhora das Graças. Acho linda esta imagem porque é uma das mais finas ilustrações de Nossa Senhora. Ela tem os braços abertos, voltados pra frente e grudados ao corpo. É bem bonita com o manto azul. Para mim, ela representa isso mesmo: uma belíssima figura de uma senhora feita em resina. Para minha mãe, tem lá outro significado. Respeito-o muito, mas não posso rezar pra ela. Seria covarde de minha parte e seria feio também aos olhos da Santa, se ela existir. Então não rezo. Mas a deixo lá na cabeceira da minha cama. Não por representar a mãe de Cristo, mas sim por ser a lembrança da minha própria que lá de Andradas deve lembrar de mim e pensar em boas coisas que poderiam me ajudar.

segunda-feira, março 21, 2005

Abraça o capeta!

Na sexta, na confusão do ônibus lotado, um esperto qualquer aproveitou a situação e levou consigo o meu celular. Que raiva! Pelo celular, pela situação, pela impotência!
Ainda não comprei outro e o novo número divulgarei aos amigos tão logo eu mesma o tenha.

Resolvi, contudo, que, estando eu no inferno, farei amizade com o capeta e vou me divertir com as situações que ele me apronta!

Ah! Mandingas, amuletos e receitas de simpatias, de qualquer jeito, são bem vindos!

sexta-feira, março 18, 2005

Não me considero uma pessoa distraída, ao contrário. Às vezes até acho que observo tanto as coisas e as pessoas que acabo me envolvendo em situações que não dizem respeito a mim.
Também não era uma criança distraída e prova disso é que eu vivia metida em toda e qualquer brincadeira e era sempre convidada a participar daquelas em que ainda não havia me ajuntado até então. Mas lembro bem de um momento de um lapso de atenção que me causou um pequeno acidente...

Estava eu na 2a. série e voltava da escola para casa. Ia a pé e sozinha carregando minha bolsa que se parecia com uma maleta, era rosa e tinha os Ursinhos Carinhosos estampados. Fazia sempre o mesmo caminho, menos por ser metódica e mais pela distância a ser percorrida. Conhecia, então, muito bem as ruas, as casas e as calçadas, o que não evitou que eu me chocasse com toda a força contra um desnível de cerca de 20 cm no concreto da calçada que divisava duas casas.
A pancada foi forte e eu usava o uniforme de verão: camisa branca e saia de pregas. Fiz um belo machucado entre o joelho e a canela.
Não foi só um arranhão. Foi um corte pouco profundo, mas o suficiente para ver a carne branca se encher vagarosamente de pontos vermelhos.
Faltava cerca de 1 km para a minha casa e eu tinha que ir embora.
Lembro do caminho embaçado pelos olhos turvos de dor e lágrimas que não deixei cair. Fui por todo o caminho calada, a garganta doendo de tanta força que eu empregava para segurar o choro. Aos colegas que viam o sangue, só um aceno de cabeça e mãos tentando dizer que tudo estava bem. Sabia que, em abrindo a boca, o choro viria. Incontrolável, triste e necessário.
Fui forte até o portão de casa. De costas pros que subiam, já começaram a escorrer as lágrimas.
Quem as viu primeiro foi minha mãe que, com um beijo em meus cabelos e água oxigenada em mãos, foi me acalmando do choro sofrido. Na verdade, já chorava menos pelo machucado e mais pela situação enfrentada e pela acolhida singela e sincera.

É... Não mudei muito de 80 e poucos pra cá.O choro alegre e emocionado corre fácil na frente de qualquer um. O choro sofrido, carregado de humilhação, só aparece na frente daqueles a quem tenho confiança, a quem tomo verdadeiramente por amigo e a quem sei que me acolherá com braços de mãe.

terça-feira, março 08, 2005

Até quando?

Atrás de um banco do ônibus, num outro dia, li um recado: "Gordo, te adoro. Si 15/02/05".
Assim mesmo. Em poucas palavras, a Si deixou lá grafada sua possível paixão pelo Gordo.

Eu, quando penso em adoração, vejo como algo incondicional, extremamente forte e até um tanto irracional. Vejo também um sentimento duradouro; capaz e possível de superar adversidades, incoerências e novidades.
Foi aí que a Si nos enganou - a mim e ao Gordo.
A Si adora o Gordo no dia 15 de fevereiro de 2005, como ela mesma fez questão de reassaltar. Se em 15 de março o Gordo já fez algo que não lhe agradou, já não será mais digno da adoração da Si. também pode acontecer de o Gordo vir a perder 15 kg até o fim do ano. Coitado! A Si pode até deixar de vê-lo com olhos de devoção.

Vão dizer que eu devo concordar com o Vinícius, que a adoração da Si pelo Gordo não é eterna, posto que é chama, mas que deve ser infinita enquanto durar.
Concordo. Em certos aspectos.

A longevidade de um relacionamento qualquer tem caído à míngüa na proporção inversa em que aumentam as taxas de expectativa de vida. Se penso assim, parece até óbvio que a eternidade fique cada vez mais distante quando falamos das relações que unem e envolvem as pessoas. Mas não é somente nisso que estou pensando.
Tenho a impressão de que hoje nada é para sempre. As pessoas se trocam e são trocadas quase que compulsivamente, antes que um sofrimento pequeno, grande ou maior possa surgir. Para evitar a dor, antecipam-na.
Não estou defendendo aqui algum tipo de fidelidade cega e burra, nem a aceitação do inaceitável ou sua entrega desmerecida ciente de que de nada adianta. Falo somente contra o desprendimento excessivo que vejo em muitas ocasiões.
O direito da escolha, o reconhecimento do erro, a tentativa de se buscar algo melhor não estão em jogo: vejo-os como parte de um processo. Mas é que à vezes tudo parece ser atropelado, gerando um ciclo "descartabilidade" extremamente intenso.
Ninguém adora alguém ou algo após um dia ou dois. Assim também acho que ninguém se desapega rapidamente do que adora.
Quando a gente ama, de verdade, é para sempre. Mesmo que o forma do sentimento mude, que o modo de expressá-lo se torne outro, mesmo assim ainda existe. Não conheci quem "desamasse" alguém após anos de amor intenso e verdadeiro.
Bem querer, amor e adoração não têm prazo de validade.
Suas declarações também não deveriam ter.
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