terça-feira, novembro 30, 2004

Tempo cheio (ou vazio...)

Às vezes não gosto de finais de semana. Adoro o descanso que eles trazem, mas odeio a idéia de estar em plena sexta à noite sem ter a mínima idéia do que fazer até o domingo à noite. São horas e horas em que poderia me dedicar ao mais profundo descaso e descanso, mas não sei entrar bem num fim de semana se não tiver enchido-me de coisas pra fazer. Sei lá. Parece que o mundo está acontecendo lá fora e eu parada sem ter o que fazer.
Acho que é isso o que me cansa em Andradas.
Tudo bem que não vou mais pra lá esperando fazer alguma coisa que me divirta aos montes. Lá o que me agrada mesmo é ficar em casa batendo bons papos, comendo muito bem, brincando com o João Gabi e entregando-me ao que não gosto nem um pouco de fazer em São Paulo: nada.
Fazer nada em Andradas é quase que a única boa opção, porque lá é o lugar em que não se deve fazer nada. A obrigação de sair e se relacionar com as pessoas em Andradas não é muito interessante porque lá as coisas não mudam, então fazer isso hoje ou daqui há 5 anos dá na mesma.
Aqui não. Aqui em São Paulo as coisas são diferentes porque tudo muda a todo momento. Se você não vai ao cinema num fim de semana corre o risco de só assistir àquele filme quando chegar na Blockbuster do lado da sua casa. Se você não avisa um amigo que daqui há 3 horas tá pensando em beber uma cervejinha num barzinho qualquer, já não consegue mais tempo suficiente para irem para lá e aproveitarem como deveria ser aproveitado. Aí a cervejinha fica na vontade e a espera tem que se estender por uma semana de correria e de loucuras de tantas coisas acontecendo juntas.
E aí é está a questão: em São Paulo tudo é imediato, tudo acontece rápido e a toda hora e você acaba se contaminando com a idéia de que tem que fazer muita coisa pra aproveitar um pouquinho. Em Andradas, nada muda e se você não faz, não fez e acabou a conversa. Problema teu.

Mas o grande problema mesmo está no fato de que não fiz nada entre o sábado à noite e a segunda de manhã.
A chuva caindo torrencialmente em todo canto de São Paulo, a Rebouças agitada e barulhenta como sempre e como nunca, a TV mostrando tudo que acontecia em cada canto do mundo, as pessoas dos prédios vizinhos recebendo visitas ou batendo bons papos na sala de estar e meus vizinhos de porta se despedindo aos beijos estalados no corredor colado à minha porta, tudo isso me fez perceber o quanto São Paulo é cruel com quem põe na cabeça em se sentir Andradas ali do lado da Avenida Brasil.
Se não correr, meu, já era. Aí não tem uais que expliquem o porquê te ter perdido um fim de semana num completo nada fazer. Não tem trem que tire sua angústia de pensar que pode ter sido a única pessoa no mundo que ficou ali esquecida.
É difícil, mas a mania de ser bicho do mato, de ser cria da “cidade que nunca acorda”, é que me deixam assim, tão contrariada por não saber se me faço de paulista e arranjo um programa entre tantos ou se assumo a mineirice de precisar me esconder de tudo por um tempo, que pode ser aquele curto do fim de semana...

sexta-feira, novembro 19, 2004

Perguntas

Não que a vida seja tão simples a ponto de ser assim resumida, mas é que a vida é cheia de perguntas e respostas que às vezes acho que até parece um jogo de adivinhação e que cada casa em que paramos tem ali uma pergunta escondida pra ser respondida.
Lembro que, na 4a. Série, a professora perguntou em uma prova o nome completo do Aleijadinho. Tentei e agrupei o maior conjunto possível de três nomes portugueses jamais visto, mas nenhum se assemelhava aquele que vagamente lembrava de ter lido em meu caderno, no dia anterior, enquanto decorava os pontos para fazer a prova.
É certo que essa pergunta me foi difícil aquele dia, mas outras tantas me foram fáceis em tantos anos de escola. Responder “quem descobriu o Brasil”, “quanto é 7 vezes 8”, “qual a capital da Holanda” sempre me pareceram questões triviais que exigiam somente alguns momentos de atenção e de leitura para que as respondesse de maneira correta e convincente segundo os olhares atentos de minhas professoras.
Não quero falar que fui boa aluna (e isso é bem verdade), quero é dizer que sempre sou me comportar frente aos “desafios” que me eram propostos. Criei uma certeza em mim de que tudo seria facilmente respondido e entendido porque eu era boa em fazer isso.
Mas os anos passaram, os problemas aumentaram em quantidade e dificuldade e hoje não acho nenhum livro velho ou um caderno cheio da minha letra irregular que me conte o que fazer em certas situações.
Parece que agora a vida se esmera em escolher questões difíceis, sem uma resposta óbvia e direta, questões complexas que podem te afundar se escolher direção ou outra, questões estranhas e que demandam resposta rápida, de supetão, que governam depois as outras perguntas e o grau de certeza que posso ter ou não...
Até hoje não sei o nome do Aleijadinho: o Google até pode me dar agora, mas não quero. Já vi, a poucos centímetros, aquilo que suas mãos deficientes fizeram.
Também até hoje não sei a resposta de algumas perguntas que a vida me faz ou me fez e às quais respondi bem ou mal, mas vejo aqui (e posso sentir, mais que tudo) o efeito daquelas escolhas.
Seria bom que o efeito delas fosse tão belo e emocionante aos meus olhos quanto são os cuidados de Aleijadinho na pedra sabão. Pena que não são...

quarta-feira, novembro 10, 2004

Quero contar uma história: Fazer amigos é algo que me dá muito prazer! Não é qualquer amigo assim que eu digo. São certas pessoas para as quais eu olho e penso “desse eu quero ser amigo”. Aí eu me desdobro pra ser amiga dessa pessoa. Chego até a ser simpática e sociável (coisa impensável de eu ser com quem não conheço muito bem). A verdade é que acho que tenho um certo “faro” bem apurado pra reconhecer as pessoas e, se vejo que aquele será um bom amigo, invisto mesmo.
Então, sempre tive bons amigos. E acho que sempre fui uma boa amiga pra eles...

Aqui entra outra história: Quando eu era criança, odiava dias de feriado. Gostava daqueles dias que vinham junto aos feriados, mas não gostava do feriado em si porque, normalmente, era o último dia daqueles gostosos dias em que minhas primas ficavam em Andradas. No dia do feriado, malas prontas, postas no carro e tchau. Eu me escondia, mas era facilmente achada. Aí chorava e chorava... Nunca gostei de despedidas.

Agora eu junto as duas histórias: Sempre tive bons amigos. E acho que fui uma boa amiga pra eles, mas nunca me permiti despedir-me deles.
Vim embora pra São Paulo, deixei lá meus amigos e não disse que vinha, não dei tchau e a gente ficou 200km distante e mais uma imensidade de assuntos dos quais nunca mais falamos. Agora a gente se vê no supermercado ou na rua, se abraça feito estranho e pergunta “onde está?”, “o que tem feito?” e o assunto acaba e a gente fica com cara de constrangido e eu fico muito triste de ter perdido uma amizade tão boa, tão grande.

Agora que já contei como sou, peço que, por favor, sejam insistentes comigo. Se vocês forem embora pra outros cantos, ou se eu for pra qualquer outro lugar, por favor, me liguem, me contem o que fizeram à noite, me falem o quanto estão bravos com alguém que lhes importunou no trabalho, me despejem suas ressacas morais, tanto faz! Mas não façam o que eu sempre acabo fazendo. Não vão embora por muito tempo, porque eu odeio despedidas.
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