terça-feira, março 11, 2008

Silêncio

De repente, uma frase: “O tempo é contrário às palavras. Ele é silencioso.”

Talvez mais do que uma característica própria do tempo, o silêncio seja uma conseqüência dele.

Na febre, as palavras escapam da boca, da cabeça, do estômago; confundem a reivindicação com o inefável e acredita-se possível falar o que não tem forma senão naquela situação existente na memória, ou no desejo.
A febre provoca delírios. E delírios provocam acessos de certeza, excessos de confiança, excessos de crença em coisas que o próprio delírio trouxe.

Depois, assim como veio, ela passa...

E que bom que ela passe! Não só pelo conforto restabelecido, pelo calor que deixa de queimar, pelas dores que deixam de atormentar. É que também deixam de existir os acessos de loucura, os devaneios ilógicos. Restaura-se a sanidade.

Aí nem é mais preciso falar. As bocas se calam, as palavras não precisam mais procurar sentido: um sentido já foi determinado, definido; o sentimento já foi cristalizado. E como um cristal, reflete a luz com perfeição; como um cristal, emite sons próximos aos de sinfonias; como um cristal, é lindo de se admirar, mas ao toque, ao menor contato, pode se despedaçar tornando-se não mais que um pedaço de vidro qualquer.

quarta-feira, março 05, 2008

Na mesa do bar

A noite é a de segunda-feira. Faz calor.
O local é o Salve Jorge: bar lotado da Vila Madalena.
Personagens?: três amigas e algumas garrafas de cerveja. Clube da Luluzinha sim, e daí?
Em pauta, zilhões de assuntos: comentários sobre os namorados de duas e a falta dele para outra; dicas de filmes; os Oscar e a tradicional polêmica que a gente sempre cria em torno de quem ganhou e quem não; os vestidos do Oscar; os caras do Oscar; a falta do Heath Ledger no Oscar (tristeza profunda.); e por aí vai...

Nós somamos 90 anos, as três. E foi inevitável não falar de idade...
Nenhuma de nós está preocupada com botox e coisas assim. E pelo o que conheço de cada uma, não deveremos ficar. A idade entrou em pauta mais para contextualizar um assunto do qual falamos pouco em todas as outras situações: filhos. Tê-los? Não os ter? Quando os ter?

As três são donas de si, independentes, contentes da vida que levam. As três não são tradicionalistas, nem acham que a vida se resume a casar e ter filhos, mas as três concordaram que terão, sim!, filhos. E os querem com pais. E querem morar os três: pai, mão e filho, juntos e felizes.
Parece até que nada mudou de nossas mães para cá, de nossas avós para cá...
E voltamos para casa as três, um pouco altinhas das cervejas.
Voltamos cedo porque amanhã, cada uma delas, precisar acordar cedo e trabalhar até tarde. Cada uma delas está toda atarefada em sua rotina de balzaquianas (ou quase!) que, embora a gente faça questão de reclamar, nos deixa tão feliz!
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