segunda-feira, março 26, 2007

Em seu lugar

Tédio, tristeza e solidão. Tudo junto, às vezes mais e depois menos.
A vida acontecendo lá fora e você à deriva. Cheia de coragem, mas sem vontade de mudar, ou cheia de vontade e força, mas sem motivo para mudar. Deixa-se, então, tudo como está.
E, de repente, assim, só de repente, a nova ordem vem com Ceremony e malabarismos chineses. E festa e alegria e um pôr do sol como tantos outros...

Tudo isso porque ontem assisti à Marie Antoniette.

Lux Lisbon, Charlotte e, agora, Maria Antonieta.
O que será que há com a Sofia Copolla que consegue fazer com que a gente acredite ardentemente (e logo em seguida deseje ardentemente!) ter vivido na década de 70, depois no Japão e, hoje, em Versailles, usando perucas imensas e vestidos deslumbrantes?

Mulheres que não cabem em seu lugar, em seu tempo, mas que, independente disso, ou por isso mesmo, estão em qualquer época e sociedade. Prescindem da noção de “lugar que lhes convenha”, e, sei lá porquê, são vistas com olhos de espanto, de incompreensão.
Talvez sejam mesmo um all-star rosa, sujo e roto entre tantos lindos e finos scarpins bem trabalhados. Mas são mais confortáveis e não te deixam na mão. Por nada.

terça-feira, março 20, 2007

"Something good became so bad"

De um lado, pipocam-me sentimentos bons; alegria das grandes; certeza de que tudo está no caminho certo e que as escolhas passadas e as feitas agora foram acertadas. Por outro, causa-me espanto o desconcerto, desconsolo, desânimo e toda uma gama de coisas que só me mostram um poço fundo com o qual não tenho a menor habilidade para tratar e nele viver.

Vivo em um estado quântico e nem eu mesma sei o que sou até que traços de um ou outro caráter sejam detectados na interação com diferentes entidades...

Faz-se o quê diante disso?
Faz-se algo? Ou apenas se esquece e vou indo?

Não tenho respostas, mas as perguntas borbulham. Nascem, surgem e me levam à loucura por não ter idéia nenhuma de se serão possíveis de serem respondidas.
Perguntas que vêm à tona numa quantidade absurdamente imprecisa.
Tão imprecisa quanto eu mesma diante de mim.

sexta-feira, março 02, 2007

Apimentado

Comecei a ler ontem e não consegui desgrudar.
O livro é bem escrito, e a história e as idéias ali passadas me pegaram em cheio de tal forma que não foi possível parar de ler até quando o sono mostrou sua cara.

“Os botões de Napoleão”, segundo seus autores, não é um livro de história da química, mas da química na história.
É claro que o livro, por ter sido escritos por químicos, trata desta disciplina e de seus conhecimentos, traz fórmulas de moléculas e suas propriedades e também seus efeitos, mesmo assim, mesmo para quem, como eu, não gosta muito de química, fica o fascínio no ar.

Não vou contar tudo o que li, mas um pequeno pedaço que me fez conjecturar umas coisinhas...

Gostei, em especial, do momento em que os autores falam sobre a pimenta-do-reino, mostram a molécula da piperina e sua estrutura e comentam sobre o processo pelo qual identificamos seu sabor.
Seu sabor é uma resposta de nosso cérebro à dor provocada pelo estímulo químico.
Sim! A pimenta, para quem gosta, é boa porque arde e dói. É boa porque, ao ser sentida pelas papilas gustativas, a dor causada pela pimenta faz com que o cérebro libere endorfina: quanto mais forte a pimenta, mais endorfina é liberada e, portanto, maior o prazer ao saboreá-la. E aqui está o X da questão: o prazer provém da degustação da pimenta ou do sentir sua ardência?

Talvez só saborear não seja suficiente. Talvez o percurso exija mais do que as linhas retas: reivindique uma pedra no caminho ou no calcanhar. Mero capricho para que, ao fim, a trajetória seja lembrada, rememorada e (se me permitem o trocadilho infame) regurgitada, e o sabor venha de novo à tona.

Ás vezes, o que nos interessa não é o doce, ameno e tranqüilo sabor do açúcar, mas a picante e estimulante dorzinha de um prazer.
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