quarta-feira, agosto 24, 2005

Choro com hora marcada

Será no domingo, lá no aeroporto de Guarulhos, por volta das 6 ou 7 da noite, que o choro virá. Sofrido.
Na verdade, será até antes (e ele até já deu suas caras várias vezes por esses dias), mas é que no domingo, quando a gente se abraçar e ela dobrar o portão de embarque, vou chorar pela saudade que a Júlia vai me fazer sentir por todo esse ano em que ela estiver em Salt Lake City.

A Júlia costuma dizer que eu sou sua “prima-irmã-madrinha-cupido” e eu acho todo bonitinho o nome composto e fico muito feliz com o título que ela me dá!
Adoro ser sua prima, sua irmã, sua madrinha e, ainda, fazer as vezes de cupido! Mas, mesmo com todas essas “obrigações”, e apesar delas, AMO ser sua amiga e me divertir junto dela, seja numa viagem para Andradas, embaladas por músicas que nós mesmas, desafinadas e loucamente, cantamos a plenos pulmões, seja sentada no sofá de casa, nos bons tempos em que ela era só uma adolescente que queria mostrar à prima mais velha sua performance como spice girl.
Mas agora não adianta: por mais que digam que “o tempo passa rápido”, que “um ano voa”, sei que todas as vezes em que eu pensar nela, esse danado desse tempo vai fazer questão de mostrar sua vontade própria passando bem devagarinho na minha frente e me deixando mais e mais com saudades dela...

terça-feira, agosto 16, 2005

Seu Ricardo

Era dia dos pais.
Não por isso, mas porque era domingo, fomos para a roça amontoar o café que secava no terreiro.
Sob o sol forte das 2 da tarde, logo me cansei e as bochechas avermelharam.
O café quente queimava meus pés descalços enquanto eu puxava, com um rodo de metal, montes de grãos para o ponto marcado com a linha da leira.
Foi meu vô quem marcou. Ele que, do alto de seus 88 anos, continuava ereto, firme e sério mesmo que o sol forte o castigasse como devia estar.
Ele acompanhou o trabalho todo. Comandando, rodando, falando, e o tempo todo impávido.
Acabada a tarefa, cada um para um canto e o vô ali, contando histórias, nossas velhas conhecidas, para um amigo da minha prima que conhecia Andradas no fim de semana.
Enquanto isso, fui para dentro da casa com a Marina. Ela queria separar umas fotos bem antigas e acabamos achando também uns vinis, vários papéis, escrituras e recibos de impostos, livros de reza e uns móveis antigos, mas ainda firmes.
Quando o vô veio ver as fotos que a gente tinha levado para fora, perguntamos sobre uns bancos de madeira que vimos em um dos quartos. Como não se lembrava, nos chamou para mostrarmos a ele.
Dos bancos, não se lembrou mesmo. Nem fez muita questão, é verdade. Mas quis ir pro outro cômodo onde ainda tem a estrutura em madeira de uma velha cama, um móvel com gaveta e porta e uma velha arca.
Já conhecia histórias sobre aquela arca: tinha vindo da Itália com os pertences de meus bisavós, virou baú por aqui e fui útil por muito tempo. Só não sabia que aquela arca era uma das personagens de uma das histórias que meu vô mais gosta de contar e que eu mais gosto de ouvir.

Num certo dia de julho, meu vô com 3 anos e pouco, sua mãe o coloca em cima da arca para vesti-lo depois do banho. Ele diz que era como uma camisola, a roupa de crianças à época. Sua mãe está chorando. Em italiano, ele fala: “Por que você chora?” “Choro porque minha mãe morreu.”.

Meu vô, que permaneceu forte sob o sol da tarde, nesta hora se sentou sobre a arca.
O rosto sério.
As palavras em ritmo compassado e tranqüilo como de costume pararam por uns instantes como se ele se lembrasse daquele dia.
Então falou de novo. Contou que naquela cama ali haviam morrido seu pai e sua mãe. Que o pequeno móvel de porta e gaveta era onde se guardava dinheiro e documentos. Falou sobre os esforços de seus pais e de tantos outros imigrantes de Andradas. Falou que os tempos foram difíceis para todos, mas que não podia reclamar: fora criado a pão de ló. Depois se levantou e caminhou rumo à porta. Marina e eu atrás, quietas, olhando com respeito e admiração para toda aquela grandeza que não cabe no corpo de 1,90m de nosso avô.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Ainda bem que passa! (ou: Do inferno à paz!)

Agora que acabou, tenho o bom humor do meu lado e nem resquícios da apreensão de uns tempos aí.
Resolvi que vale a pena tentar organizar o top five que possa mostrar, em ordem cronológica, o que passei. Pode, sim, ter uns furos, mas em essência é isso!

Ah! Também destaco as frases que refletem o porquê destas serem as escolhidas.

1. Beautiful day, U2 (It’s a beautiful day, don’t let it get away. You’re on the road, but you got no destination.)
2. Creep, Radiohead (But I’m a creep, I’m a weirdo. What the hell am I doing here? I don’t belong here)
3. Over the rainbow, Judy Garland (Somewhere over the rainbow, skies are blue and the dreams that you dare to dream really do come true)
4. Everybody’s changing, Keane (Try to understand that I'm trying to make a move to stay in the game, I’m trying to stay awake and remember my name, but everybody's changing and I don't feel the same)
5. Too young, Phoenix (I guess I couldn't live without the things that made my life what it is. Everybody's dancing oh yeah. Tonight everything is over and I feel too young)

terça-feira, agosto 02, 2005

Just like...

Tudo bem que o filme já tá quase velho e que todo mundo já viu e reviu, e que eu já falei um milhão de vezes dele, mas, mesmo assim, independente de tudo isso, ainda tenho que falar sobre “Encontros e Desencontros”.

Em uma das muitas vezes que vi o filme em DVD, parei na última cena e voltava e assistia, e voltava e aumentava o volume e assistia, e voltava e punha a legenda em inglês com o volume lá em cima e assistia... E nem assim e nem de jeito nenhum, nunca soube o que é que o Bob cochicha no ouvido da Charlotte. Droga!

Mesmo assim a cena é linda: um beijo sem grandes movimentos, ela na ponta dos pés, os olhos meio marejados e ele lá, meio sério, meio inabalável, triste. E começa a música: “Just like honey” a mesma que me acordou hoje.


Meu vizinho de cima é extremamente eclético em se tratando de música. Já tive boas surpresas sendo acordada com Keane, Beck e Interpol, mas já esbravejei e pedi sua morte em dias em que ele resolve escutar axé, pagode ou sertaneja.

Mas hoje foi Jesus and Mary Chain e o bom humor!

Só comecei a me lembrar de que estava ainda cheia de sono quando a música acabou e eu me peguei, de novo, tentando saber o que é que ele disse no ouvido dela.

O que sempre penso é que ele deve ter dito algo como “é difícil sim, mas você é uma boa menina e vai se dar bem”.
Acho que é isso que ando tentando me dizer depois de quarta: Acabou. Foi difícil. Ainda é. Mas, de um jeito estranho, ainda perdida na tradução disso tudo, quero acreditar que logo tudo vai estar bem, vou me acostumar com o fim deste mestrado e perceber que agora é diferente, e que eu posso me tirar da inércia.
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