quinta-feira, julho 21, 2005

Andradas

Peço desculpas ao que já leram isso, mas é que ainda penso assim. Especialmente depois da minha volta das férias...

A Andradas em que eu vivi era um pouco diferente desta cidade em que meus paismoram hoje em dia.

Na Andradas em que eu vivi, domingo era dia de missa com os padres holandeses Theodoro e Bertoldo.
Era tarefa e diversão para nós, então crianças, decifrar o sotaque durante os sermões e se contentar com as poucas palavras realmente entendidas.
Acabada a missa do domingo, na Andradas em que eu vivi, sentávamos nos bancos, imitando tonéis de vinho, do bar do Armando e tomávamos nossos guaranás maracanã enquanto nossos pais tomavam cerveja, caipirinha ou uma batida qualquer acompanhada de um bom queijo salpicado com orégano e azeite.
Como ali ficavam tempo, na Andradas em que eu vivi, não precisávamos mudar de calçada para chegar ao bar do seu Aprígio e nos fartarmos de sorvete.

Aos sábados, na Andradas em que eu vivi, esperávamos, com muita paciência e fome crescente, para colocar os dentes cheios de vontade nos lanches bem preparadospelo asseado e tranqüilo seu João.

Ninguém se preocupava na Andradas em que eu vivi...
Crianças eram conhecidas não pelo nome, mas pela paternidade. E estava no rosto a chave para se entregar uma criança que se perdesse ao correr pela fonte ligada atrás dos pequenos e gostosos pingos de água que molhavam nossas faces vermelhas e felizes por girar em torno do canteiro.

Nessa mesma Andradas em que vivi, o ponto mais alto era a torre da Matriz que acabava na arborizada e bem cuidada praça.
Suas praças eram belas e sua igreja, altaneira.

A Andradas que vejo de tempos em tempos, agora, é uma cidade que pensa se desenvolver.
Esquece-se de que seria preciso, então, avançar junto com o tempo, cuidando do que é seu e nosso, mantendo vivas nossas tradições e preservando o bom.

Ao contrário, a Andradas de hoje em dia investe em prédios bobos e feios que escondem a beleza do relógio da torre.
Nesses prédios que tiram a beleza de muita coisa, os andradenses se espremem querendo morar no centro de uma cidade em que nada é longe.

A Andradas de hoje não valoriza mais as pessoas pelo o que elas são e o que elas fazem, mas sim pelo o que elas compram e pela garganta que grita mais alto bradando suas mentiras.


Talvez até Andradas já fosse assim no tempo em que lá vivi... E bem sei que a serra e o sino da igreja lá estão, faça chuva ou faça sol, debaixo dos dois...

Talvez eu é que visse a Andradas em que eu vivi mais bonita do que ela foi ou é.
De qualquer modo, prefiro carregar a imagem antiga e lembrar de como e quanto lá fui feliz.

A verdade talvez seja a de que vivi em uma Andradas e agora faço visitas esporádicas a uma outra cidade. Desconhecida.
Ela e eu.

terça-feira, julho 05, 2005

Paixão...

A quantidade de fatores que podem detonar o meu calvário é inúmera, mas na ida ao banco para pagar o aluguel, descendo a Teodoro, andando entre pessoas apressadas com seus afazeres, lá estava eu, desempregada, desesperançosa, cabeça baixa.

Dinheiro não tenho. Paguei o aluguel e meu débito só cresceu, junto com um monte de angústias que há dias me acompanham. E foi mais ou menos nisso que eu fui pensando...

Quando estava no colegial, a vida seria na faculdade. Entrei na USP e vivi muito bem meus dias de universitária, e pensava que a vida começaria ao término do curso. Fiz a última prova e fui aprovada também na seleção do mestrado. Tive muito trabalho e vivi de forma adulta, só que agora, dissertação pronta e entregue, defesa agendada, a vida ta aqui, na minha cara, e não consigo fazer parte dela.

Para aqueles que procuram alguém como eu, com minha formação, sou pouco. Para os que procuram um pouco menos, sou muito. Onde eu me enquadro? Será que aqui é o limbo?

E eu nem peço muito: Só me apresentem à porta de saída.
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